sábado, 30 de julho de 2011

Vários dias haviam se passado desde que alguém o vira pela última vez. Alguns preocupavam-se, enquanto a maioria mal se importava. Aquele antigo apartamento no centro da cidade nunca viu tamanha calmaria. Os parentes resolveram chamar a polícia, a porta foi arrombada, e finalmente a certeza: ele havia cessado. Sua irmã mais nova caiu em prantos, enquanto seu primo aceitou aquilo como um alívio para o tão querido amigo que havia partido. Sabia que as coisas não estavam indo muito bem, e que talvez somente a morte pudesse colocar um fim em tudo aquilo. Ver o único amigo agonizar em seus próprios conflitos internos era como cravar uma faca no peito e girá-la a trezentos e sessenta graus. A perícia havia concluído que seu último ato antes de morrer fora escrever uma pequena carta, enquanto tomava o seu preferido chá de maçã com canela - que segundo ele, lhe proporcionava ânimo e melancolia ao mesmo tempo. Sua irmã pegou o pequeno pedaço de papel que padecia sobre a escrivaninha, e leu um pequeno trecho, enquanto que inevitavelmente, lágrimas fugiam de seus olhos. Após ler a última frase, ela aproximou-se do delegado, e pediu que fosse embora. O assassino não poderia ser encontrado, e tampouco preso. Ele era invísível, e para alguns, irreal. E olhando para o corpo de seu irmão estendido no desgastado chão de mármore, concluiu que o amor havia feito mais uma de suas vítimas.

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